Não importa que faz frio. Tel Aviv segue sendo a cidade passarela. O frio daqui não é, nem de longe, parecido ao frio europeu. Basta um casaquinho, aquele típico que a mãe judia manda usar quando saímos de casa. Venta um vento que às vezes incomoda, no máximo. De vez em quando chove. Muito pouco.

E mesmo assim, os telavivenses desfilam na passarela, com sua moda particular, entre lojas de grife, embaixadas com suas imponentes bandeiras, quiosques vendendo drogas sintéticas, e cafés, os cafés que têm mesas do lado de fora, com cadeiras viradas para a rua – todos querem ver e ser vistos na cidade passarela.

Estou agora em um café de Tel Aviv. Típico café de Tel Aviv. Senhores idosos, talvez sobreviventes do Holocausto, ou pioneiros da criação do Estado de Israel, sentam-se em rodas e conversam com risadas e boinas. Eles têm muitas histórias para contar. Falta quem quer ouvir.

Há um ou outro cliente tomando café afuch e fumando seu cigarro. Em Tel Aviv a lei do toldo não existe. E mesmo em lugares fechados, onde a lei proíbe fumar, é possível encontrar alguém com um cigarro aceso e um cinzeiro improvisado. E há casais. Muitos jovens, porque Tel Aviv é feita de jovens. E gays, porque Tel Aviv não é homofóbica.

Na rua os telavivenses desfilam com seus celulares, sempre ligados. Conversam em voz alta, contando histórias para quem quiser ouvir. Ou mandando mensagens de texto, que custam tão pouco nesse país. E há dondocas com seus cachorrinhos. Muitos passam de motocas, solução óbvia para o trânsito caótico da cidade de 100 anos, e para a falta de vagas na Tel Aviv que dá muitas multas.

Tel Aviv é a cidade bolha, distante psicologicamente de conflitos e guerras, da política e do noticiário. Os telavivenses vivem em um mundo à parte, e são acusados pelos moradores de outras cidades de apatia. Vivem, trabalham muito, correm sempre. Não há tempo para perder na cidade passarela.

Há também, na cidade bolha, manifestações. Há protestos políticos, sempre realizados “na praça”, a praça Rabin, onde o ex-premiê foi assassinado há quinze anos. E há protestos pelos direitos dos gays, dos estrangeiros ilegais, dos animais e da natureza. Os telavivenses sabem fazer sua voz ser ouvida.

Vou fazendo minha despedida.


O CRBE e eu

02nov10

Brasileiros no Mundo, ItamaratyRecentemente o Itamaraty, o Ministério de Relações Exteriores do Brasil, criou o Conselho de Representantes de Brasileiros no Exterior (CRBE).

O órgão vai ser formado por 16 pessoas radicadas no exterior, que podem ser eleitas, já esta semana, por qualquer brasileiro maior de 16 anos que, igualmente, viva fora do Brasil. Para estabelecer o CRBE, o Itamaraty dividiu o mundo em quatro grandes regiões:

1. América do Sul e Central; 2. América do Norte e Caribe; 3. Europa; 4. Ásia, África, Oriente Médio e Oceania

Sou candidato ao CRBE pela região 4, que, como todas as outras, terá quatro representantes no Conselho. A região engloba países tão diferentes quanto Angola, Qatar, Israel, Líbano, Austrália, Japão, Filipinas e Moçambique (e muitos outros). Por isso acredito ser importante que cada zona menor, dentro da região 4, com países com características parecidas, tenha seu candidato.

Para votar no CRBE e escolher o representante é preciso ter mais de 16 anos e viver fora do Brasil. Aos que moram na região 4 ou conhecem pessoas que vivem nesses países, quero deixar aqui meu pedido de ajuda para que minha candidatura tenha sucesso – e para que eu possa ser um dos membros do CRBE. A votação é rápida e pode ser feita pelo site Brasileiros no Mundo.

Aos que tenham dúvidas sobre o papel do CRBE e sobre a minha atuação, se eleito, deixo os comentários como forma de contato. Terei prazer em conversar com quem se interesse em saber mais a respeito. De toda forma, acredito ser muito importante a criação de um conselho que represente os brasileiros que vivem fora do país – mais de 3 milhões de pessoas segundo o MRE.


Leia meus textos de hoje no Terra sobre os brasileiros que votaram para presidente neste segundo turno em Ramallah e Tel Aviv.


Estive hoje – mas confesso que não fiquei até o final (porque acordo cedo amanhã) – na praça Rabin, local onde o ex-premiê foi assassinado, há 15 anos. Falei diretamente de lá. Em breve vou publicar aqui no blog um texto que escrevi a respeito. Não vai ser amanhã, porque estarei o dia todo entre Ramallah e Tel Aviv. Aos que não estão viajando e aproveitando o feriado, boas eleições amanhã! Votem conscientes!


Kikar Rabin

30out10

Enquete do dia (os resultados serão comentadoe em um post, em breve)


Panorama de Jericó (foto: Wikipedia)

Jericó (na foto) é uma cidade palestina com população de cerca de 20 mil pessoas, localizada ao norte do Mar Morto, próxima do Rio Jordão. É uma das cidades mais antigas do mundo, com presença contínua de habitantes há mais de 10 mil anos. Colocando de lado o conflito sem fim entre palestinos – que desde 1994 dominam inteiramente a cidade – e israelenses, Jericó tem importância histórica óbvia. Além disso, tem relevância religiosa para muçulmanos, cristãos e judeus.

Pois uma entidade israelense que presta serviços a jornalistas estrangeiros trabalhando em Israel organizou uma visita à cidade. O passeio, de um dia inteiro, deveria ocorrer ontem, e incluiria conversas com autoridades locais sobre os eventos que estão sendo organizados para a comemoração dos 10 mil anos da cidade – Israel é assim: Tel Aviv comemorou 100 anos em 2009, Jericó faz 10 mil este ano!

Além do encontro com políticos municipais e da Autoridade Palestina (AP), haveria uma visita às excavações arqueológicas do palácio de Hisham.

Ontem, a entidade enviou um email para os jornalistas estrangeiros para anunciar que a visita tinha sido cancelada pela AP. Na mensagem aparece a explicação de que um porta-voz da AP, Ghassan Khatib, teria dito à entidade que “jornalistas que venham por meio de uma organização israelense não são bem-vindos”. Isso apesar de que o passeio tinha sido organizado em coordenação com o Ministério do Turismo da AP.

Em resposta, o diretor da entidade, Aryeh Green, enviou a seguinte mensagem à AP:

Em quatro anos de prestação de serviços profissionais para a imprensa estrangeira baseada ou em visita a Israel ou à Autoridade Palestina, estou preocupado e chocado com uma política tão excludente e divisora de um representante da AP. Espero muito que este não seja um passo novo e preocupante no endurecimento de uma posição palestina anti-Israel, nem um reflexo das restrições de liberdade de imprensa nas áreas palestinas.

Até onde eu soube, não houve resposta da AP a respeito. Mas esta não é a primeira vez que o Ministério palestino do Turismo se posicionou dessa forma com relação a Israel. Na semana passada o Ministério israelense do Turismo fez um convite aos 33 mineiros resgatados no Chile para que passassem o Natal na Terra Santa – o que incluiria visitas a locais sagrados para o cristianismo, alguns deles em território palestino, como a Igreja da Natividade, em Belém.

A notícia foi amplamente divulgada, no contexto dos presentes e convites que os mineiros, então recém-resgatados em Copiapó, estavam recebendo. Na sequência, o Terra deu uma notícia da EFE segundo a qual “palestinos pedem que mineiros rejeitem convite israelense”. Para o porta-voz do Departamento de Negociações da OLP, Xavier Abu Eid, o convite aos mineradores “reflete o uso político que Israel faz do turismo”.

Este afastamento em uma das áreas tradicionais de cooperação (apesar do conflito) entre palestinos e israelenses, é preocupante. Os dois lados têm interesse comum em aumentar o ingresso de turistas na região, que sofreu muito durante as intifadas e mesmo durante guerras curtas e concentradas em áreas específicas, como o norte de Israel e Faixa de Gaza.

Em épocas de calmaria o turismo é uma das principais atividades e fontes de renda tanto para israelenses como para palestinos – por conta da importância religiosa e histórica existente por aqui. Sigo acompanhando a questão, com a mesma preocupação que Green manifestou, e com a esperança de que esses casos sejam pontuais, apenas.




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